quinta-feira, 31 de março de 2022

Avaliação do Curso Vídeo Popular Camponês, da Escola Cenas Camponesas

 A Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do Piauí "Cenas Camponesas"  na luta cultural camponesa



No contexto da pandemia e da necropolítica que têm marcado a história social do país, os camponeses do sul do PI são afetados duplamente: de um lado, com a perda de direitos sociais e, de outro, com os conflitos territoriais decorrentes da expansão do agronegócio na região.

Neste contexto, a Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do PI fez uma opção político-pedagógica, colocando seu trabalho de socialização dos meios produtivos da arte a favor da resistência camponesa. 

Sua primeira ação nessa perspectiva foi a oferta do curso "Vídeo Popular Camponês", em modalidade remota, para lideranças rurais, estudantes da educação do campo e militantes da agroecologia do PI.

A proposta, construída participativamente e desenvolvida a partir de metodologias da educação popular, teve como foco a produção de vídeo documentários, assumidos como uma forma de análise, anúncio e denúncia da questão agrária da região, desde a perspectiva camponesa.

A partir de um sistema modular de ensino, os cursistas tiveram acesso a um amplo repertório de filmes que evidenciam representações contra-hegemônicas sobre as ruralidades brasileiras, sendo estimulados a compreender nessas obras a dialética entre forma, conteúdo e modo de produção.

A partir dessa educação do olhar e do enriquecimento da gramática audiovisual, os cursos receberam uma formação teórico-prática sobre o uso de celulares na produção audiovisual e organizaram-se em grupo para produzir documentários sobre questões de interesse de suas próprias comunidades, a saber: a grilagem de terras e a ameaça aos modos de vida camponeses; atravessamentos da cultura popular camponesa em tempos de agronegócio e protestantismo;  os saberes do trabalho dos  vaqueiros em co-evolução com a natureza.

A realização do curso foi conduzida pela Comissão Político Pedagógica da Escola - apoiada no programa institucional de bolsas de extensão da (PIBEX) da UFPI,  em parceria com a CPT/PI e com a Associação Quilombola Brejão dos Aipins -, e contou com a colaboração de professores ligados à Rede Nuestra America e ao coletivo independente LabCine (Teresina/PI).

A experiência do curso,  que marcou o primeiro ano de existência da escola, foi desafiadora: para além do precário acesso à internet e aos meios tecnológicos de informação e comunicação (celulares, no caso),  observou-se que a  indústria cultural exerce um papel muito forte na colonização dos inconscientes dos próprios camponeses; a contracolonização dos imaginários e dos repertórios formais não se concluiu em uma única formação. Além disso, o engajamento da CPT e da Associação Quilombola na CPP do curso foi instável, pois, na fronteira do agronegócio e da Covid os conflitos no campo aumentaram, requerendo-lhes atenção total. Isso abalou o papel de mediação entre a universidade e comunidades rurais exercido por tais entidades, enfraquecendo o engajamento dos cursistas e o papel educativo da Mostras de Documentários Itinerante idealizada para o encerramento do processo.

 Ao mesmo tempo, o curso elucidou que, na luta de classes e na defesa dos territórios camponeses, a arma cultural audiovisual é tão desafiadora quanto indispensável e que a extensão, inserida nesse universo, deve insistir na vinculação orgânica entre os processos criativos e as demandas de formação de base das organizações camponesas. Isso não significa que o trabalho artístico político com audiovisual passa superar os problemas do campesinato, mas sim que ele pode formar pessoas, elevar seus níveis de consciência e percepção estética, para que estas, para que sigam lutando, na disputa por um projeto de campo centrado na vida e não no negócio.

Em breve, publicaremos as produções audiovisuais resultantes do curso.


CPP da Escola

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